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 Carl Schmitt por um Mundo Multipolar

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MensagemAssunto: Carl Schmitt por um Mundo Multipolar   Carl Schmitt por um Mundo Multipolar Icon_minitimeSex Set 14, 2012 3:37 am

A Unidade do Mundo (1951)

"A unidade global de um mundo em perfeito funcionamento está em estricta correspondência com o pensamento técnico-industrial hodierno. Não confundamos esse ideal técnico com o ideal cristão. O desenvolvimento técnico produz, através de seu próprio modo de existir, cada vez mais organizações e centralizações. Poderíamos dizer que hoje é a técnica e não a política quem representa o grande destino da humanidade: a técnica como irresistível processo da absoluta centralização (...)

Também as camadas dominantes, em cujas mãos se concentram as grandes decisões da política mundial, encontram-se tomadas por essa visão técnico-industrial de unificação de mundo. Nesse contexto, parece extremamente importante, como documento, a assim chamada "Doutrina Stimson", anunciada em 1932 pelo então ministro das relações exteriores dos Estados Unidos da América, Henry L. Stimson, e que proclamou a tese do pan-intervencionismo. Stimson explicitou o significado de sua doutrina em um pronunciamento de 9 de junho de 1941. As palavras por ele utilizadas compõem um verdadeiro credo da nova unidade do mundo. Ele assevera que a Terra, então, não seria maior do que era os Estados Unidos da América em 1861; que à época, os Estados Unidos eram pequenos para os conflitos entre os estados do Norte e o do Sul. A Terra, afiança Stimson, seria então pequena demais para suportar a existência de dois sistemas opostos. (...) No decurso de 30 anos, durante uma geração, o país mais rico da Terra, com a mais poderosa indústria e o maior potencial bélico do planeta passou do pluralismo para a unidade. Assim parece que a unidade do planeta é a coisa mais natural do mundo.

A realidade política actual não oferece, entretanto, o panorama de uma unidade, mas sim de uma dualidade, e a rigor de uma inquietante dualidade. Dois grandes rivais postam-se como inimigos e estabelecem um conflito entre Oriente e Ocidente, capitalismo e comunismo, com sistemas econômicos e ideologias opostas, classes dominantes e líderes completamente distintos e heterogéneos. É um misto de guerra fria e guerra declarada, de guerra de nervos e de armas, de guerra de comunicados diplomáticos, de propaganda e de conferéncias; uma guerra na qual o dualismo emerge como uma clara diferenciação entre amigo-inimigo. (...)

Para a tendência geral rumo à unificação técnico industrial, o dualismo actual não pode significar senão uma passagem em direcção à unidade, à última fase, à última rodada da luta pela unidade final. Isso significaria que o sobrevivente do conflicto actual seria amanhã o único senhor da Terra. O vencedor levaria a cabo a unidade do mundo de acordo com seus pontos de vista e conforme suas concepções. Suas elites hão de representar o modelo do novo homem; elas planejariam e organizaria a vida na Terra em conformidade com suas idéias políticas, económicas e morais. Aqueles que admiram o mundo técnico e industrial deveriam estar inteiramente cientes dessa consequência.

Porém, a unidade do mundo, a ser posta em marcha a partir da vitória final de um dos rivais, não é o único meio de pôr termo ao conflito dualista que vivemos. As trincheiras actuais do Oriente e do Occidente formam uma partição que não esgota a totalidade de nosso mundo. Antes eu citei Henry L. Stimson, segundo o qual toda a Terra não seria maior do que os Estados Unidos da América durante a Guerra de Secessão de 1861. Contra essa posição, objetou-se, anos atrás, que toda a Terra sempre seria maior do que os Estados Unidos da América. Acrescentemos ainda, com maior razão, que a Terra sempre será maior do que o presente Leste comunista. Portanto, não obstante o quão pequena a Terra tenha se tornado (N. por força da técnica), ela continuará ainda muito extensa para se deixar subjugar por dois pontos de vista exclusivistas apresentados por ambas alternativas no dualismo mundial.

Incontestavelmente, há hoje uma forte tendência para a geração de uma "terceira força". (...) Tão logo surja uma terceira força, estará aberto o caminho para uma multiplicidade de forças, pois as novas forças não se deterão em número de três, a dialética do poder humano nunca é limitada. Cada um dos dois antagonistas tem interesses em atrair os outros para si, em proteger os fracos e fazer exigências em relação aos demais. É também da natureza da terceira força aproveitar-se da oposição dos dois maiores. (...)

Portanto, a possibilidade de uma terceira força não se limita à tríade: ao invés disso, ela pode desembocar numa pluralidade. Com isto, está dada a possibilidade de um equilíbrio de forças, um equilíbrio de diferentes Großeräumen (Grandes Espaços), que produzam entre si um novo Direito Internacional em outro nível e com outras dimensões, porém com muitas semelhanças com o direito internacional europeu dos séculos XVIII e XIX, que da mesma forma se baseavam no equilíbrio de forças, que davam suporte à sua estrutura.

Também o Jus Publicum Europeum implicava uma unidade de mundo. Era uma unidade eurocêntrica de mundo, mas em uma configuração pluralista e um equilíbrio de diferentes forças - e não o poder central de um único senhor desse mundo. É possível que a actual dualidade de mundo esteja muito mais próxima de uma multiplicidade do que de uma unidade final e que as combinações de um "one world" tenham sido assaz precipitadas."

SCHMITT, Carl. A Unidade do Mundo. Palestra proferida em 1951 no Ateneo de Madrid.





Deus te oiça, Mastá XMTT!! Reza2 Imperium Reza2 Imperium Reza2 Imperium Reza2 Imperium Reza2 Imperium
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MensagemAssunto: Re: Carl Schmitt por um Mundo Multipolar   Carl Schmitt por um Mundo Multipolar Icon_minitimeSex Set 14, 2012 3:01 pm


Impressionante, para não dizer assombrosa, a capacidade schmittiana em termos de diagnose política: em 1951 ele já divisiva, com absoluta clareza e coerência, o que estamos vivendo hoje!

Av Imperium Av
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