Aphrodite's Child - 666 (Grécia, 1971)
Disco 1
1 – The System
2 – Babylon
3 – Loud Loud Loud
4 – The Four Horsemen
5 – The Lamb
6 – The Seventh Seal
7 – Aegian Sea
8 – Seven Bowls
9 – The Wakening Beast
10 – Lament
11 – The Marching Beast
12 – The Battle of the Lacusts
13 – Do It
14 – Tribulation
15 – The Beast
16 – Ofis
Disco 2
1 – Seven Trumpets
2 – Altamont
3 – The Wedding of the lamb
4 – The Capture of the Beast
5 – Infinity Symbol
6 – Hic and Nunc
7 – All the Seats Were Occupied
8 – Break
Integrantes:Vangelis Papathanassiou: Órgão, piano, flauta, percussão e
backing vocalsDemis Roussos: Baixo, vocais e
backing vocalsLucus Sideras: Bateria, vocais e
backing vocalsSilver Koulouris: Guitarras e percussão
Músicos Convidados:
Harris Halikitis: Baixo, saxofone tenor, conga e
backing vocalsMichel Ripoche: Trombone, saxofone tenor
John Forst: Narração
Yannis Tsarouchis: Texto grego
Irene Papas: Vocais em “Infinity Symbol”
Em um dos trechos do Apocalipse, o último livro da Bíblia, é anunciado que qualquer um que tiver inteligência seria capaz de reconhecer o número da Besta, por se tratar de um número humano, e esse número seria:
seiscentos e sessenta e seis. Mas por que esse número? Alguns teólogos acreditam que, assim como o número da perfeição seria o 7, o 666 seria um símbolo da “quase-perfeição”. Agora, pra assimilar esse anúncio, teremos que usar toda a nossa inteligência (e criatividade), para não sermos surpreendidos quando a hora do Juízo Final chegar... Uma das associações mais criativas que já tive notícia foi com a sigla da World Wide Web (WWW), que lembra o número 666 em algarismos romanos:
VIVIVI. Será Bill Gates o anti-cristo???
Mas enquanto o fim do mundo não chega, esse número (e outras preconizações estapafúrdias da Bíblia) têm sido usados a torto e a direito por aí, inclusive por bandas de rock e heavy metal. Mas o
Aphrodite’s Child, banda formada na mitológica Grécia e liderada pelo famoso “tecladista-ambiente”
Vangelis (que mais tarde chegou a gravar com outros músicos progressivos, como o Jon Anderson, do Yes), não utilizou-se exclusivamente do livro sagrado dos católicos para fazer esse disco conceitual, e sim de uma obra do escritor Costas Ferris. O livro conta a história de uma trupe circense que encena o próprio Apocalipse com acrobatas, dançarinas, tigres, leões, etc... em um grandiosíssimo espetáculo de luzes e fogos de artifício. Mas eis que, certo dia, durante uma dessas apresentações, do lado de fora da lona, acontece o verdadeiro fim do mundo...
Esse disco é, sem sombra de dúvidas, o trabalho mais rebuscado, intrincado, complexo e a frente de seu tempo que o
Aphrodite’s Child já gravou, bem superior ao que a banda (e o próprio Vangelis) fizeram posteriormente – tanto que quem conhecer outros trabalhos deles depois de ouvir esse “666” com certeza vai ter uma decepção e tanto. Nesse excelente álbum duplo, o
Aphrodite’s Child lança mão de longos solos instrumentais, citações em grego, corais celestiais (e as vezes infernais), e outros artifícios comuns (e outros tantos absolutamente únicos) para a época - 1971, provavelmente o ano mais experimental da História do Rock Progressivo – para fazer uma obra espetacular, com toda a grandiosidade - e ao mesmo tempo sutileza - de uma tragédia grega, como se a banda estivesse tocando num picadeiro cercado por uma multidão em polvorosa. O encarte do disco tem uma citação caretona (ou sarcástica): “Este disco foi gravado sob a influência de
sahlep”, se referindo a uma bebida que não tem nenhum poder alucinógeno, é tomado no café da manhã pelos gregos mais pobres...
Drogado ou não, Vangelis teve aqui o momento de maior inspiração de toda a sua carreira, combinado rock progressivo com outros elementos de world/soul/tribal music, krautrock, space/psychedelic rock, etecétera, ao longo do disco (com destaque para o vocal do baixista Demis Roussos nas excelentes melodias de “Babylon” e “The Four Horsemen”, para a gradeloqüente e orgásmica (!) participação de Irene Papas em “Infinity Symbol”, e para os belíssimos momentos instrumentais proporcionados principalmente pela viajante (e competente) guitarra de Silver Kolouris), para no final fundir-se na extraordinária suíte “All the Seats Were Occupied”, quase vinte minutos da verdadeira música dos quintos do infernos, como o diabo gosta!!!