Peço desculpas pela demora em bostar aqui pessoal, mas aí vai (se ficar uma merda podem xingar aew):
Nascido em Syracuse em 1954, Bruce Timothy Berne nunca imaginou que fosse se tornar um músico na vida, até que em meados da década de 70 resolveu comprar um saxofone de um rapaz que tocava na sua acomodação enquanto estudou em Oregon. Suas influências começaram pelos artistas do Motown/Stax Records, mas o álbum que o ajudou a se tornar o músico que conhecemos hoje foi o Dogon A.D. de Julius Hemphill, que explorava diferentes texturas e ritmos dentro do Jazz, em uma época em que o gênero se resumia quase que somente a improvisação livre. Ao se mudar pra NY em 1974, Berne acabou tendo Hemphill como seu professor, e nas suas lições os assuntos iam de produção de áudio até espiritualidade e magia, com as ocasionais aulas de sax. Sua carreira teve início em 1979 pela Empire (selo próprio), e depois de começar a moldar um estilo composicional mais pessoal, Berne gravou suas primeiras obras-primas pela Columbia: Fulton Maul Street e Sanctified Dreams, ambos álbuns essenciais na sua discografia. Após a sua passagem pela Columbia ele resolveu embarcar no selo mais
cool da cena nova iorquina da época, o JMT, onde gravou grande parte de seus álbuns nos anos 90, dentre eles, o Pace Yourself (1991).
Como ouvinte e admirador de seus trabalhos, poderia dizer que Pace Yourself é uma das maiores obras do Jazz dos 90's em diante, não só pela criatividade improvisacional dos artistas envolvidos, mas também (senão principalmente) pelas composições do Tim. As 6 faixas navegam entre o caos de um big band saindo fora de controle (o que lembra até da fase Fusion do Zappa), e baladas (ou seriam "baladas"?) mais amenas mas não menos interessantes, impossíveis de serem classificadas como
fillers, por exemplo. Nenhuma de suas composições trabalha pelo sistema "tema-solo-tema", e isso é com certeza uma das primeiras coisas que chamam a atenção do ouvinte, por mais que ele não tenha abandonado o Blues (apesar de não usá-lo de forma tão óbvia/previsível). Em matéria de desorientação, destaco as faixas Bass Voodoo, The Noose e The Legend of P-1 como um verdadeiro deleite, com as suas multicamadas intrincadas que lembram mais uma série de trens descarrilhando do que um modelo arquitetônico moderno (o
modus operandi do Tim se desenrola a partir deste princípio, e até os dias de hoje ele se destaca por explorar estas interações/justaposições musicais, o que o colocaria como uma figura tão importante quanto Anthony Braxton no contexto de inovação composicional, NMO). Em tempo: Marc Ducret é com certeza um dos guitarristas mais subestimados evá, e sua performance enaltece a qualidade da obra como um todo.
Enfim, eu diria que qualquer um que goste de Rock In Opposition, Zappa, Composição Moderna/Etc, Avant Jazz e similares vai achar o álbum no mínimo bacana, especialmente após ouvir mais vezes. Desde o Pace Yourself tenho feito do Berne um artista constante na minha lista de músicas, seja no Winamp ou no celular. NA FÉ