David Byrne and Brian Eno – Everything That Happens Will Happen Today (Inglaterra, 2008)
1 - Home
2 - My Big Nurse
3 - I Feel My Stuff
4 - Everything That Happens
5 - Life Is Long
6 - The River
7 - Strange Overtones
8 - Wanted For Life
9 - One Fine Day
10 - Poor Boy
11 - The Lighthouse
Músicos principais:
Leo Abrahams – violão, percussão, guitarra, piano, baixo, backing vocals
David Byrne – vocais, guitarra
Brian Eno – baixo, backing vocals, guitarra, teclados, órgão, “piano inumano”
Esse é um disco chato. Não por ser mal composto, nem por ser mal tocado, muito menos por ser mal gravado – muito pelo contrário, aliás. Eno e Byrne, os dois camaradas responsáveis por essa obra, simplesmente dispensam apresentações. Dispensam tanto que, no final, o disco saiu chato – mas, não há como negar, é uma chatice de primeira.
Brian Eno, que começou sua carreira na excepcional banda
Roxy Music, para depois se tornar conhecido como o músico “pai do ambient” e o produtor de bandas como
U2 e
Coldplay, já havia dividido um projeto com David Byrne, o tresloucado vocalista e guitarrista do
Talking Heads, em 1981, no revolucionário “My Life in the Bush of Ghosts”, um disco que é considerado uma espécie de divisor de águas na música pop do início dos anos 80, com sua mistura de
world music com temas eletrônicos. Mas eis que, quase trinta anos depois, Byrne resolve levar pra ouvir em casa as mais novas “paisagens sônicas” criadas por Eno e colocar letras e voz nelas, como que tentando traduzi-las em palavras. E o que Byrne viu é o que todos nós vemos todos os dias, no nosso cotidiano: que estamos vivendo em tempos chatos, mas que a esperança é, sempre, a última que morre.
Todos sabem que muitas vezes juntar dois (ou mais) músicos geniais num mesmo projeto acaba dando um resultado não muito satisfatório. Mas o que temos neste “Everything That Happens Will Happen Today” é música calculada meticulosamente para agradar os admiradores da dupla, ou qualquer apreciador de música bonita. Poucas pessoas na história foram capazes de fazer músicas tão bonitas quanto Brian Eno, e nesse disco há o fato inusitado de ele ter criado a maioria delas no violão ao invés do piano, e o vocal característico de Byrne continua com a mesma excelência de sempre, apesar de ele já não ser o “psycho killer” do final dos anos 70…
A abertura, com “
Home” e “
My Big Nurse”, lembram bastante a fase gospel dos Talking Heads, com o cenário cyber/ambient/eletrônico servindo de fundo para o violão e o vocal de Byrne, numa harmonia perfeita. Mas é em “
I Feel My Stuff” que se tem a certeza que o que estamos ouvindo não é um disquinho qualquer. O teclado começa incerto como pingos de chuva na água para depois se tornar angustiante e tenso, e o vocal acompanha essa evolução. “
Everything That Happens” já lembra o clima de discos como “Another Green World”, um dos mais famosos de Eno, um “proto-ambient” com uma melodia vocal de uma beleza espetacular. “
Life is Long” é um espetáculo de otimismo diante de tanto realismo. “
The River” é simples mas perfeita, e é seguida pela ótima “
Strange Overtones”, que é a faixa do disco que está disponível para
download no site do disco (que também tem o disco inteiro disponível em
streaming), escolha que eu achei um tanto equivocada, pois apesar de muito boa, não é o ponto alto do disco. “
Wanted for Life” é quase um Talking Heads típico, mas o vocal de Byrne evoluiu de uma maneira que só algumas décadas de carreira permitem. “
One Fine Day” é um folk gospel celestial, já “
Poor Boy” trás de volta a atmosfera angustiante de “
I Feel My Stuff”. O encerramento, a triste e viajante “
The Lighthouse”, é mais um indefectível exercício de beleza musical elevada ao seu extremo.
Mas mesmo tendo acabado de ouvir esse disco e achado ótimo, o fato de saber que ele foi feito por duas sumidades da música acaba nos dando a sensação de que ele poderia ter sido muito melhor – mas isso é besteira, apesar de não acrescentar nada de novo nas já bem sucedidas carreiras desses dois excepcionais músicos, “Everything That Happens Will Happen Today” é um disco confortável e fácil de se gostar, ou seja: chato.