Suicide -
23 Minutes Over Brussels (1978 - EUA)
Faixas:
1) 23 Minutes over Brussels (22:54)
Músicos:
Alan Vega / vocais
Martin Rev / sintetizador
VCS3, aparatos eletrônicos diversos
É com prazer que vos apresento hoje, preclaríssimos confrades, a inesquecível e impagável peça de
agit prop sônico, terrorismo contracultural anárquico e neurastenia 'drogoléptica' chamada
23 Minutes Over Brussels (1978 - Red Star / Bronze Records), do duo novaiorquino Suicide, álbum lançado originalmente como
flexi-disc encartado num
zine, em edição limitada de 1000 cópias. O disco em si é genial, claro, mas a história que o envolve é ainda mais, de modo que merece ser narrada.
No dia 16 de junho de 1978, Alan Vega e Martin Rev encontravam-se na aristocrática capital da Bélgica, mais precisamente no clube Ancienne Belgique, para abrir um concerto de Elvis Costello; como quem conhece a banda pode bem imaginar, a sinistra e morbidamente irônica fusão entre eletrônica primitiva e '
rockabilly mutante de Alpha Centauri com
Síndrome de Down' dos caras não era, por assim dizer, a coisa mais compatível com o
punk / folk comparativamente 'normal' de
Mr. Costello à época. Pois muito bem: com Rev a cargo de seu insólito arsenal de traquitanas eletrônicas (um
VCS3 e uma
drum machine arcaicos, ambos emprestados, e via de regra avariados!), e Vega soltando sua voz de 'deidade lovecraftiana
in a bad mood lendo recitativos de Antonin Artaud numa estação de rádio extraterrestre fora de sintonia', as sublimes litanias do grupo sobre o apocalipse industrial da pós-modernidade começaram a ser despejadas implacavelmente sobre a platéia, pérolas do inferno como
Ghost Rider,
Rocket USA,
Cheree,
Dance; o público, a princípio estupefacto, começou depois a apupar a apresentação com enfática e crescente indignação. Alheios a tudo, no entanto, Vega e Rev deram início então ao verdadeiro ritual eletro-industrial de ódio e danação denominado
Frankie Teardrop, em versão particularmente neurótica e furiosa. O que até aquele momento era tão somente rejeição estética transformou-se em fúria absoluta, e membros mais exaltados da audiência começaram a subir ao palco para agredir o duo. Nossos heróis conseguiram segurar um pouco as pontas, mas logo multiplicaram ao infinito o caos com uma
boutade de todo genial: Vega perguntou ao público se eles queriam ver logo a atração principal, obtendo como resposta urros coletivos de "Elvis, Elvis, Elvis!!!". O insano
performer começou então a entoar
Frankie Teardrop no compasso da célebre
Love Me Tender (um dos clássicos absolutos de uma certa figura chamada Elvis Presley... ) com uma voz absolutamente macabra e aterradora, enquanto Rev mimetizava, de forma esquizofrênica, o ritmo da canção em suas engenhocas. Não é preciso ser uma pitonisa para adivinhar que a abstrusa '
cover' obviamente deu início a um 'furdunço' de vastas proporções, com a turba detonando tudo à sua frente. Todavia, Howard Thompson, amigo da banda, lá estava com um gravador, registrando o inolvidável evento para gáudio geral
per saecula saeculorum de todos nós da nação
freak!
No mais, conforme Alan Vega, umas poucas horas depois do show, definiria de forma lapidar, "
We're all frankies, except some belgians..."