1. "I Want Wind to Blow" – 5:32
2. "The Glow Pt. 2" – 4:58
3. "The Moon" – 5:17
4. "Headless Horseman" – 3:10
5. "My Roots Are Strong and Deep" – 1:53
6. "Instrumental" – 1:38
7. "The Mansion" – 3:34
8. "(Something)" – 1:46
9. "(Something) (continued)" – 2:53
10. "I'll Not Contain You" – 2:50
11. "The Gleam Pt. 2" – 1:58
12. "Map" – 5:01
13. "You'll Be in the Air" – 2:41
14. "I Want to Be Cold" – 1:42
15. "I Am Bored" – 1:36
16. "I Felt My Size" – 2:19
17. "Instrumental (2)" – 1:56
18. "I Felt Your Shape" – 1:55
19. "Samurai Sword" – 4:07
20. "My Warm Blood" – 9:27
Sem ter nenhuma vergonha ou respeito, começarei meu texto com um puta clichê. Sabe, o amor e a vida são duas coisas estranhas. Raramente temos algum controle sobre ambos, somos vítimas tanto quanto somos espectadores. Isso parece uma boa forma de justificar as cagadas que eu fiz e faço, mas falando sério, se eu fiz as cagadas não foi por outro motivo senão minha própria natureza. Como lutar com a natureza? Algumas pessoas nasceram pra matar, outras pra cozinhar, outras pra fazer faculdade de RP... Okay, tu pode esquecer esse último, esse é trauma de infância. Meu ponto é: Se cada um tem uma mente, como culpar o cara disso? Não que ele não tem responsabilidades, mas essencialmente todos estamos só olhando próximos demais uma pintura pra ver alguma coisa com clareza.
E é isso que me pega no conceito de morte. O que é morrer? Parar de existir? Improvável, eu tenho mais paranóias do que anos pra vivenciá-las. Não posso morrer por cigarro ou até atropelado. Não me acho tão fraco assim. E mesmo assim, em muitos momentos me sinto um morto andando. Não um zumbi caralho, mas sim uma carne enorme incapaz de experienciar qualquer coisa. Travado, se você preferir. E, meu Deus, isso não pode ser só sensação minha. Alguém mais deve sentir isso. Não bem uma tristeza, não bem um cansaço, não bem uma desesperança. Mas tudo isso ao mesmo tempo, esmagando tua cabeça. Sem permissão, sem justificativa, sem razão. E por mais que eu pense pouco sobre tudo, isso volta e meia volta pra me assombrar. É o que há de mais obscuro na natureza humana, e enquanto essa sensação leva pessoas a matar, eu simplesmente me sinto morto.
Phil Elvrum canta sobre isso. Eu li uma vez o conceito de "The Glow Pt. 2", era alguma coisa sobre o personagem se ver morrendo, ver minhocas comendo suas entranhas e retornando como o universo. Não sei direito, e lendo as letras realmente não sinto isso. Lendo as letras eu vejo um conceito simples: Tristeza. É um disco que fala de fins de relacionamento e como não voltamos iguais de uma coisa que nos marca. Nunca voltamos iguais. Morremos pra nascer de novo, e Deus como demora pra nascer de novo. É, de novo essa merda minha, e agora já nem é mais sentir falta daquilo. É sentir falta daquilo. Okay, isso não fez sentido. Mas, sério, 2 meses e pouco depois e minha vida ainda está bagunçada, vazia e atormentada. Boa parte disso é culpa minha... Teoricamente. É a minha natureza. Culpa minha? Não, eu não escolhi isso. Não decidi. Em momento algum tive controle.
E se todos morremos pra retornar como o universo, talvez a parte das minhocas seja sobre comer o nosso ego. Viu tudo que eu escrevi? Eu ainda sou absorvido demais pelo meu "sofrimento", e gosto demais de escrever sobre mim mesmo. Eu teria que abrir mão disso pra encontrar algo maior, ou sei lá, não encontrar algo maior e simplesmente morrer de câncer. Sou cético, mas não sou idiota. Não vou pregar nada sobre minha pós-vida, mas só por não ter certeza. E se? E se? Mas eu realmente acredito que, no final, o que nos liga nos fará um só. E todo tipo de sensação passará. E vamos simplesmente estar completos. Acredito nisso, sei lá, faz sentido. Paraíso, se tu prefere. E se esse for realmente o conceito por trás do disco, lindo. E mesmo se não for, é uma obra sobre renascimento. Merece ser ouvida do começo ao final, e não é fácil de encarar.
Eu nunca acreditei nessa bosta de "disco difícil". Ou o cara gosta ou não gosta, e embora algumas obras crescem em você, não é porque elas são tão maravilhosas que nossa limitada mente não capta na primeira audição. Isso é coisa de fã babaca que ama superestimar a banda que curte. "Porra, tu tem certeza que não gosta de Faust? Ouviu quantas vezes? 35?! É uma banda difícil, cara, ouve umas 47 vezes e fala comigo de novo!". Ou você gosta ou não gosta, pode até tomar o tempo pra ouvir de uma maneira diferente a obra em questão, mas não vai entender mais do que entendeu da primeira vez. Dito isso, "Glow, Pt. 2" é um puta disco difícil de se ouvir. Ele é pesado demais, emocionalmente. Elvrum, a única mente por trás do projeto, faz um lo-fi esquisito, a produção é estranha demais. E ele mistura peças com vocal com outras instrumentais, e muitas vezes só um barulho. Uma respiração, se preferir.
E isso vai crescendo em você. Vai dando desespero. É um disco imprevisível que pode ir pra qualquer lado em qualquer momento, e 1 hora disso é um pouco foda demais. E é a única forma de ouvir. É mais ou menos como assistir Begotten. Você termina relativamente exausto, até tremendo sem saber realmente o que se passou. Direto demais, soco no estômago. Mas o que leva a assistir o filme e ouvir o disco? A genialidade. Elvrum fez uma obra-prima musicalmente, interessante em todos os sentidos e que, se você deixar, vai te prender durante o tempo de execução. Funciona como uma música só, e em momento algum ela fica entediante. Mas no final é cansativo. Uma emoção única na música, e que só por isso já faz merecer uma audição. Se tu não gostar, paciência. Mas se gostar, ela vai te absorver.
E incrível é como a peça de encerramento, "My Warm Blood", serve de lembrança do porquê tu chegou nela em primeiro lugar. Todos os elementos do disco se encontram ali, é o final da história. A respiração ainda está lá, pra te lembrar do conceito. Levantar e tentar de novo, outra coisa, outro dia. Cantar uma música melhor. E os quase 8 minutos de silêncio da música são das coisas mais barulhentas que eu conheço, e no final, só a batida de coração. Ainda vivo, né? Você pode se sentir morto, mas ainda está vivo pra isso. E ainda tem esperança, né? Não muito, não inventaram uma máquina do tempo. Incrível que você precisa perder um relacionamento pra achar tua musa. Se tudo é uma metáfora de alguma porra, entenda o que eu quis dizer com isso. Não é sobre morrer, é sobre nascer diferente. Não é sobre ouvir ou tentar entender, é sobre experienciar. Tente. Se não der, ao menos tu conheceu algo realmente único.