(Mais um
old review, mas 'fodassi', um "povo sem memória não tem História" (
)
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Miles Davis -
Dark Magus (1974 - EUA)
Faixas:
1) Moja, Pt. 1 (12:28)
2) Moja, Pt. 2 (12:40)
3) Wili, Pt. 1 (14:20)
4) Wili, Pt. 2 (10:44)
5) Tatu, Pt. 1 (18:47)
6) Tatu ("Calypso Frelimo"), Pt. 2 (6:29)
7) Nne ("Lfe"), Pt. 1 (15:19)
8) Nne, Pt. 2 (10:11)
Músicos:
Miles Davis / trompete, órgão elétrico
Azar Lawrence / sax tenor
Dave Liebman / flauta, sax soprano, sax tenor
Pete Cosey / guitarra elétrica
Dominique Gaumont / guitarra elétrica
Reggie Lucas / guitarra elétrica
Michael J. Henderson / baixo elétrico, baixo acústico
Al Foster / bateria
James Mtume / percussão
Conforme já havia sublinhado anteriormente, desde 1969, quando decidira bagunçar de vez o coreto jazzístico, implodindo os alicerces do gênero com
Bitches Brew, nosso
almighty Miles incrementaria o impacto de sua última e mais estupenda revolução estilística disco após disco, até chegar ao ápice da subversão elétrica of
all things jazzy durante o biênio 1974-75, cujo primeiro resultado seria justamente o álbum que doravante passaremos a considerar.
O que dizer, portanto, a propósito de mais este devastador
ICBM de desorientação sônica in extremis urdido pelo infernal Miles,
himself o insuperável e único 'Dark Magus'? À semelhança de Agharta, seu luciferino congênere,
Dark Magus (que registra uma apresentação ao vivo no Carnegie Hall em NY) é mais um maremoto de galáxias circungirantes de
psych jazz estelar colidindo com vudu percussivo
funk e estratosféricas alucinações de
acid rock diretamente
from the harrowing chasm of everlasting sonic madness, mefistofélica saturnália pagã conjurada por Miles em 'Hierofante do Caos
full mode on', para evocar Baphomet e suas avantêsmicas hordas de íncubos demoníacos sob o eflúvio de miasmas lunares na floresta do alheamento transpsicodélico.
Como amiúde sói acontecer com obras deste jaez, uma análise faixa por faixa revelar-se-ia fátuo mister; assim sendo, o que se pode fazer é uma tentativa de evocar a atmosfera que emana deste blasfemo e inebriante ritual cabalístico-musical.
Capitaneando a tonitruante fuzilaria de metais a jato, o anfetamínico Maldoror do
jazz from hell converte seu trompete em sirene hipercinética despejando rajadas sucessivas de uivos eletromagnéticos, enquanto o oceano radioativo de
drones magmáticos emitidos por seu órgão elétrico erige a muralha orquestral; os saxofones de Lawrence e Liebman incrementam a
blitzkrieg psicossônica vociferando
all over the place uma miríade de exclamações assimétricas;
running the voodoo down, a luciferina trinca Cosey-Gaumont-Lucas opera suas guitarras elétricas como uma implacável cortina de lança-chamas em
razzias espasmódicas, incinerando tudo à sua volta; por fim, Henderson emoldura esta estraçalhante usina de força com seu baixo borbulhante, e Al Foster e Mtume seguram tudo no
background disparando morteiros percussivos aos borbotões para propelir a frenética
garage hermétique milesiana à frente, "sedenta de horizontes e presas siderais" (
apud Marinetti) em direção às mais ignotas e inauditas paragens.
E isto é tudo, meus filhos: apertem os cintos, coloquem seus capacetes, cruzem os dedos, façam suas orações
and enjoy the wild ride!