E já que eu despertei o MONSTRO...
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Acid Mothers Temple & The Melting Paraiso U.F.O. -
Electric Heavyland (2002 - Japão)
Faixas:
1) Atomic Rotary Grinding God / Quicksilver Machine Head (16:26)
2) Loved And Confused (17:33)
3) Phantom of Galactic Magnum (19:03)
Músicos:
Kawabata Makoto /
guitar, Speed Guru, producer, engineerTsuyama Atsushi /
monster bass, Cosmic Joker Koizumi Hajime /
drums, Sleeping MonkHigashi Hiroshi /
synthesizer, Dancin' KingCotton Casino /
vocals, synthesizer, Beer & CigaretteMeus caríssimos confrades, em verdade vos digo, em bom, curto, castiço e escorreito português:
FODEU... O que de todo parecia inconcebível enfim parece ter ocorrido: os limites extremos do que poderia ser feito em termos de
rock’n’roll foram alcançados. É isto mesmo, senhoras e senhores: a derradeira fronteira foi transposta, rompeu-se a barragem do som, a obliteração sônica de todos os sentidos via implacável devastação
übber rockist foi levada a efeito. O grande culpado?
Blame it on Makoto Kawabata, Grã-Ronin do estraçalhamento psíquico de garagem,
Shaman Warrior King dos báratros do pesadelo psicodélico e Custódio Transfinito dos Arcanos Sônicos do Apocalipse.
O Apocalipse sônico é dividido em três estágios:
Atomic Rotary Grinding God / Quicksilver Machine Head e
Loved And Confused são avalanches incontroláveis de
white noise desfechadas por Kawabata formando
walls of sound de energia vulcânica em estado magmático. Completam o quadro os lancinantes e hipnóticos
space whispers de Cotton Casino; as devastadoras rajadas metálico-percussivas de Koizumi; a catatonia trovejante do baixo de Tsuyama; e as espectrais muralhas alucinatórias de
found sounds e efeitos eletrônicos produzidas pelos
synths de Higashi e Casino.
Não obstante, é na última faixa, minhas senhoras e meus senhores, que o caldo entorna de vez, pois
Phantom Of Galactic Magnum desafia qualquer descrição: Kawabata e sua
gang de propagadores de ruído patafísico abandonam as últimas paragens conhecidas do
rock para precipitar-se numa ignota e ominosa nebulosa de caos, um massacre ultra/mega/hiper/meta/trans-psicodélico, descomunal, ciclópico e rigorosamente insano, sem um segundo sequer de pausa; não há, pois, aqueles interlúdios 'táticos' para que a peça volte à carga com mais intensidade depois, mas sim a banda trovejando ininterruptamente em
'full power flat out noise terror atack' mode ON. Trata-se, confrades, de ultraviolência sônico/sadomasoquista em aterrorizantes espasmos de crueldade e, em conseqüência e última instância, d'uma manifestação estética nazifascista... é, quiçá esta seja exatamente a metáfora mais adequada: caso Heinrich Himmler, Reinhard Heydrich, Karl Maria Wiligut e Julius Evola fossem fanáticos por
rock’n’roll e viciados em heroína,
Electric Heavyland decerto seria o álbum registrariam ao cabo de uma delirante jornada embalada por toneladas de
brow sugar e sanguinolentos rituais neopaganistas.
É, enfim, uma obra que atinge a esfera da noção kantiana de ‘sublime’, isto é, fenômenos incomensuráveis à escala humana, que nos fascinam e horrorizam em grau máximo ao mesmo tempo; ou então, como disse o crítico musical Dominique Leone em excelente resenha, e porventura de forma mais sintética e eficaz:
”how much is too much?”