Quando perguntado se teria algum mestre de técnica cinematográfica, respondo Alfred Hitchcock. Eu, como cinéfilo, sempre vi o gordinho como alguém estabelecido em degraus superiores ao resto dos cineastas. Não estou enganado. E o tempo confirma...
Psicose não é a melhor obra de Hitchcock. Nem a mais ousada. Contudo, é a mais famosa. E se devo falar sobre Alfred, obviamente vou entrar em Psycho. Por quê? Pelo simples fato de ter sido uma das películas mais influentes de todos os tempos? Ou então porque apenas botando nossos atentos olhos em suas cenas preto-e-branco, podemos ver Alfred Hitchcock, não o criador e sim a criatura, com sua mente obscena e brilhante? De gênio arrogante e caráter duvidoso, o diretor mais famoso de todos os tempos era também um ser preocupadíssimo com a reputação de seus filmes. Que fique claro: De seus filmes, e não dele! Era essencial para Alfred que seus projetos fizessem sucesso, todavia ele não escondia sua empáfia. Crítico, sincero, imponente, chantagista e pragmático; Hitchcock era tudo isso e muito mais. Era a definição exata do que chamamos de "Polêmico”.
Psicose é surpreendente! A protagonista é assassinada antes de chegarmos na metade da projeção e, para o público da época, o revelador clímax seria um sinônimo de choque. Contando com argumento original e visão transcendente, Psycho pouco-a-pouco tece um horrendo conto sobre a loucura e a ação do homem frente ao que nunca entenderá. Seja na trilha-sonora agônica ou na montagem frenética, a marca do suspense nº 1 ainda está cravada na cultura popular, além de ser componente essencial do sangue cinéfilo. Não obstante, de maneira geral, o enredo não chega a ser importante.
O já famoso artifício de Hitchcock, macguffin, trata-se de tudo que nosso limitado campo de visão permite mostrar-nos. Psicose é mais... Muito mais!
Quando dizemos que um psicótico, um psicopata, pode ser definido como um ser sem escrúpulos, enérgico e amoral, tudo bem. Quando o colocamos como um louco convulso, tudo bem. E, finalmente, se juntarmos tudo, teremos a definição mais abrangente sobre o tema: Um agente neurótico e esquizofrênico, cuja falta de identificação com a realidade acaba por torna-lo uma criatura pobre de alma.
Onde entra Hitchcock? Ele é um psicótico. Um doente. Um ser humano tão pérfido que conseguia compreender como ninguém a mente de um psicopata. Sim, ele esboçou o mais detalhado retrato da psicopatia e seu mais introspectivo filme: O espectador e seu coração fraco; o caráter duvidoso de todos os personagens, indo da protagonista cara-de-pau até Norman Bates; a relação conflituosa de Norman com sua mãe (coisa que Hitchcock não teve); a sua visível preferência por loiras; a imparcialidade na construção de suas figuras, colocando até mesmo o assassino como um coitado inseguro; a filosófica cena final; a tendência para fazer o diferente, seguindo sem restrições seus ideais cinematográficos tal como a personagem principal da obra...
Tudo! TUDO é Hitchcock PURÍSSIMO! É, acima de tudo, inovador! Inovador como um dos criadores da linguagem cinematográfica moderna. Um deus com falhas, um gênio com dúvidas... Hitchcock é um cara que continua vivo simplesmente porque depositava suas qualidades e falhas em sua arte. Ele é a prova concreta e irrefutável de que a expressão do homem pode ser mais poderosa que ele mesmo.
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Dom Mar 29, 2009 1:09 am
