JCVD (2008)

(escrevi essa resenha pro meu blog, espero que não se importem de eu postar aqui também)




JCVD foi o filme do ano passado. Simples assim. Todo ano algum filme ganha o Oscar. Todo ano algum filme ganha a Palma de Ouro. Todo ano algum filme é o campeão de bilheteria. JCVD não foi nenhum desses. Não chamou muita atenção, não ganhou prêmios e quase não foi reconhecido. Dez ano daqui pode ser que seja visto como uma curiosidade, ou por algum milagre pode ser visto como o que realmente foi: O melhor filme de 2008, ficando bem longe dos outros.

Eu não tenho recursos o suficiente pra fazer uma resenha de um filme, ainda mais um que me impressionou tanto. Poderia dizer que é um "mergulho na alma" de Jean-Claude Van Damme. Mas, sério, que porra é um mergulho na alma? É molhado ou alguma coisa do tipo? Não acredito nessas metáforas, embora com certeza deixaria esse texto rico. Mas o filme não ganha pela riqueza, ganha pela brutal honestidade. Óbvio que o Van Damme que vemos em tela é um personagem, provavelmente muito melhor do que o Van Damme real. Mas durante essa uma hora e meia, você tem a legitima impressão de estar conhecendo um homem. Não uma estrela, e sim simplesmente um homem.

Como isso pode ser grandioso? Saindo de casa você conhece vários homens, e se for mulher ou viado pode até trepar com eles! Mas esse é um homem visto através de uma câmera. A lente de uma câmera gera um tremendo fascínio no espectador, isso não é novidade e até as pedras de calçamento sabem disso. E simplesmente conhecer um homem tendo essa visão? De alguma forma, é excelente. E o contexto, Deus do céu, o contexto. Eu amo essa palavra "contexto", tudo é relativo a ela. A primeira vez que realmente ouvi isso foi no "Conker's Bad Fur Day", joguinho de Nintendo 64, que tinha as áreas de contexto onde tu pisava e apertava B e alguma coisa acontecia. Era mais ou menos assim. Você ia com o contexto e mexia ele ao mesmo tempo.

No filme, Van Damme é vítima do contexto. Desde o começo vemos um movie star decadente, quebrado, desrespeitado, filmando filmes de qualidade lamentável e perdendo sua filha. Quando começa o assalto, o inferno toma conta de vez. Não vou revelar essa sequência porque é basicamente o filme, mas eu comecei rindo, quase chorei e depois ri de novo. Arte? O que é arte? Você pode argumentar que filmes mais artísticos, mais perfeitos, mais inteligentes saíram em 2008. Mas foda-se você, ninguém vai ao cinema por isso. Vai ao cinema pelo fascínio, e isso não é uma qualidade mensurável e nem constante. Pode vir através da fotografia, de uma atuação, de um roteiro, do caralho que for. E, obviamente, varia de pessoa em pessoa. Fazer crítica de cinema sempre me pareceu imbecil, mais ainda do que de música. Quem somos nós pra julgar a tela? Pra julgar os imortais? E ainda assim, aqui estou eu. Falando disso. Por que?

Quando JCVD acabou, eu fechei a janela do BSplayer (sim, eu sou um pirata safado). Levantei da cadeira e minhas pernas tremiam, deixei meu quarto e minhas pernas ainda tremiam. Dei uma volta, comecei a formular uma resenha na minha cabeça que estou até agora lutando pra recuperar. Por que? Eu não sei explicar. JCVD parece ser um encerramento de uma época que eu tanto adoro. A de filmes de porradaria. Van Damme, Steven Seagal, Dolph Lundgren, Michael Dudikoff e tantos outros. Péssimas atuações, situações ridículas, finais esperados, valor artístico nulo, intelectual idem. Bostas de filme, em curto. Eu adoro. Sem vergonha nenhuma, eu simplesmente adoro o gênero. Você não espera nada, não precisa pensar, vê explosões, peitos, porradaria e diálogos medonhos durante 90 minutos que tu poderia gastar fazendo algo mais engrandecedor, tipo ler Kafka ou ouvir Jazz. Mas, francamente, por que você ia querer fazer isso?

Essa época acabou. Oficialmente. Onde saber interpretar não importava, importava saber dar porrada. Muitas vezes nem isso! Seagal, por exemplo, é o melhor exemplo do que quero dizer. O cara é gordo! Não consegue levantar a porra da perna, precisa de dublê pra praticamente todas as cenas, atua pior do que EU e tem o corte de cabelo mais merda. Isso desde sempre, praticamente! Mas ele é o cara. Ele é foda. Ele chuta algumas bundas e come outras. É o cara que fica com a mocinha. Por que? Porque é um filme de porradaria, filme B, cru, sem expectativa, sem valor, sem nada. Só uma desculpa pra se divertir. E isso não é incrível? Van Damme é outro representante dessa época. Começou os anos 90 com projetos enormes que iam pra tudo quanto é cinema, e terminou fazendo filmes pequenos direto pra DVD. Só pelo dinheiro? Só pelo dinheiro.

E aí nós temos JCVD. Um filme biográfico, mas não muito. O Van Damme em tela é um personagem, mas isso não interessa. Você vê a decadência do gênero, a magistral cena de abertura é um fechamento desse ciclo. A partir disso, você tem um homem triste, solitário e decepcionado. Reconhecido em tudo quanto é esquina, mas ainda assim fudido. E segue nisso até o monólogo. O monólogo do Van Damme é algo além, é o tipo de coisa que tu conta pros netos. Tudo para, e você tem só uma longa fala que não faz parte do filme. Não, aquilo não é parte do filme. Aquilo é o próprio Van Damme, o real, exorcizando alguns demônios. Até aí, é um filme que mistura ação, comédia e drama. Nesse ponto, vira algo além. Transcende. Escapa de qualquer julgamento. Você pode querer criticar, dizer que o texto é ruim ou que a atuação é forçada. Mas você seria um idiota e estaria errado. Simples assim. Não é questão de gostar, é questão de entender. E quando chega nesse ponto, não adianta lutar contra. Simplesmente vá com o fluxo.

JCVD foi o filme do ano passado. Um dos melhores dessa década, possivelmente um dos 5 melhores. Coisas melhores existem, mas não existe nada igual ou até parecido. Francamente, tem que ver pra entender. Não vai virar um marco nem nada do tipo, mas é revolucionário dentro de si mesmo. JCVD é o cinema, nos lembra porque todos gostamos tanto disso. As emoções. Eu me senti como uma criança assistindo, senti como se nunca tivesse visto um filme. E pode ser que não gere esse efeito em você, pode ser que você nem goste. Mas, pra mim, é o tipo de coisa que eu vou mostrar pros filhos e contar pros netos. Dez anos daqui, pode ser que quase ninguém se lembre. Mas eu vou lembrar.

Bah Nobs, vc conseguiu um feito que eu sempre julguei impossível, vindo de qualquer pessoa: me convencer a assistir um filme do Van Damme

Esse parece ser no mínimo muito interessante, como meu HD foi pro saco vou ver se consigo o DVD

E quanto à resenha, meus parabéns dude!

Valeu bicho. E ainda bem que te dei vontade de assistir o filme, já valeu ter escrito a resenha.

Excelente, nem há o que comentar: vc realmente está matando a pau, cara.

Só me esclareça uma coisa: o filme é uma espécie de 'documentário fake', é isso?

Essa cara do Van Damme, acabado, representa tudo que a ascensão e queda de um artista poderia pretender representar, o documentário deve ser no mínimo interessante... E a resenha está impecável, parabéns! Enquanto alguns citam filósofos e falam de metáforas incompreensíveis (essa história de "mergulhar na alma" é um troço que eu nunca cheguei a entender ), o Nobs fala de jogos de videogame - mais honesto e realista impossível!

Kamikaze escreveu:

Excelente, nem há o que comentar: vc realmente está matando a pau, cara.

Só me esclareça uma coisa: o filme é uma espécie de 'documentário fake', é isso?

Brigadão bicho, e eu achava que ia levar esculacho, foi a primeira resenha séria que eu fiz de um filme. É diferente pacas de falar de música, e nem parece né?

Na verdade, não. O Van Damme em tela é uma espécie de personagem, mas os acontecimentos são próximos o suficiente com os que aconteceram com ele pra manter o espectador honesto. É um troço único mesmo, merece ser visto.

Prodigio escreveu:

Essa cara do Van Damme, acabado, representa tudo que a ascensão e queda de um artista poderia pretender representar, o documentário deve ser no mínimo interessante... E a resenha está impecável, parabéns! Enquanto alguns citam filósofos e falam de metáforas incompreensíveis (essa história de "mergulhar na alma" é um troço que eu nunca cheguei a entender ), o Nobs fala de jogos de videogame - mais honesto e realista impossível!

Valeu pelo elogio, man. E na verdade não é um documentário. Não é um filme também propriamente dito. É uma espécie de homangem ao Van Damme misturando a vida dele. Puta troço alucinante.

Lionel Richie escreveu:

Kamikaze escreveu:

Excelente, nem há o que comentar: vc realmente está matando a pau, cara.

Só me esclareça uma coisa: o filme é uma espécie de 'documentário fake', é isso?

Brigadão bicho, e eu achava que ia levar esculacho, foi a primeira resenha séria que eu fiz de um filme. É diferente pacas de falar de música, e nem parece né?

De nada, homie! Agora, sobre a diferença, realmente quando vc não envereda por questões técnicas, mas sim discorre sobre a 'atmosfera' da obra, os processos são análogos sim.

Kamikaze escreveu:

Lionel Richie escreveu:

Kamikaze escreveu:

Excelente, nem há o que comentar: vc realmente está matando a pau, cara.

Só me esclareça uma coisa: o filme é uma espécie de 'documentário fake', é isso?

Brigadão bicho, e eu achava que ia levar esculacho, foi a primeira resenha séria que eu fiz de um filme. É diferente pacas de falar de música, e nem parece né?

De nada, homie! Agora, sobre a diferença, realmente quando vc não envereda por questões técnicas, mas sim discorre sobre a 'atmosfera' da obra, os processos são análogos sim.

Tu diz? Po, eu me senti estranho pra cacete comentando sobre filme. Mas parando pra pensar, e principalmente lendo o que eu escrevi, são processos parecidos mesmo.

Tá ai resenha foda. Como eu sou fã do Van Damme, vou procura esse filme, certeza!

Valeu xmtão, procure mess.

Porra, vocês postam uns 300 milhões de filmes merdas por dia no tópico de DVD, então não custa perguntar: Alguém mais assistiu esse filme?

Eu vou esperar passar na Sessão da Tarde

Po, e eu tava falando sério: É filmão mesmo, uma obra séria conceitualmente muito interessante. Mas como não tem nenhum nome que faz cinefilozinho sentir aquela coceira no rabo a galera não assiste.

http://istandherewithmy.blogspot.com/

Nobs, será que esse blog é mesmo de uma muié, cara? Sei não...

Kamikaze escreveu:

http://istandherewithmy.blogspot.com/

Nobs, será que esse blog é mesmo de uma muié, cara? Sei não...

Esse blog é meu e de uns amigos meus. Se isso foi brincadeira eu não entendi.

Lionel Richie escreveu:

Kamikaze escreveu:

http://istandherewithmy.blogspot.com/

Nobs, será que esse blog é mesmo de uma muié, cara? Sei não...

Esse blog é meu e de uns amigos meus. Se isso foi brincadeira eu não entendi.

Sei lá, homie, é q tem um texto lá q fala de uma piroca na boca de 'sei-lá-quem', daí eu achei meio estranhão, sem cara de coisa escrita por muié....e pelo visto não era mess...

Pô, sem comentários, e talz....

Citação :

Time to.. feel the other inside.

Tá, isso é coisa do amigo meu. Os meus textos estão sobre meu nome, hahahahhaa. E eu que escrevi da ótica da mulher, aliás, terceira vez que faço isso no blog.

porra, perguntei numa locadora se tinha o filme e talz e, como não poderia deixar de ser, e com direito a plaquinha de 'eu já sabia' na produção, a resposta foi um "DVD JVC o quê??"

Well, a resenha tá maravilhosa mess. Quando tiver tempo, e eu quase nunca tenho, tobaXANA

Thank you man, se tiver oportunidade realmente assista o filme. Vale a pena.