PainKiller -
Execution Ground (1994 - EUA)
Faixas:
Disc one1) Parish of Tama (Ossuary Dub) (16:05)
2) Morning of Balachaturdasi (14:45)
3) Pashupatinath (13:47)
Disc two1) Pashupatinath (Ambient) (20:00)
2) Parish of Tama (Ambient) (19:19)
Músicos:
John Zorn /
saxophone,
voiceBill Laswell /
basses,
samplesMick Harris /
drums,
samples,
voice Muito embora considere que John Zorn tenha se transformado, de uns 10 anos para cá, num picareta de marca maior ou, na melhor das hipóteses, numa máquina de reprocessamento / diluição
ad infinitum de suas matrizes estéticas, os trabalhos que gravou com o PainKiller e o Naked City são simplesmente geniais, classificando-se até hoje entre o que há de mais brutal, original e surpreendente no âmbito do
avant rock.
O disco em tela, lançado em 1994, representa a outra face do espectro estilístico explorado pela demoníaca tríade formada por Zorn, Bill Laswell e Mick Harris: se
Guts of a Virgin (1991) e
Buried Secrets (1992) estão pejados de mercuriais explosões de
schizocore concentrado,
Execution Ground, ao contrário, desdobra-se epicamente em gigantescos oceanos magmáticos de terror sonoro
in extremis. A estética proposta pela banda é uma nebulosa metamórfica de
avant hardcore,
free jazz,
ambient noise e
dub, com longas passagens de fantasmagoria instrumental bombardeadas pelos morteiros percussivos de Harris e pela fuzilaria
avant noise do sax de Zorn, ambos multiplicados ao infinito por estarrecedores efeitos de
echo e
delay, enquanto Laswell providencia a argamassa sonora com a hipnose fantasmática de seu baixo.
No disco 2, que apresenta estratosféricas versões
ambient dub para
Pashupatinath e
Parish of Tama, a coisa toda começa a assumir contornos a um só tempo mais contemplativos e ameaçadores.
Samples de abissais cânticos
Gelug-pa abrem as comportas para um fluxo subterrâneo de percussões lemurais, bramidos agônicos de saxofone e vozes espectrais, sob a oscilação contínua e trovejante da usina subsônica de Laswell. A atmosfera lograda é decididamente sombria e luciferina,
BAD TRIP, paranóia, visões funéreas, acenos alucinógenos de Kenneth Anger, litanias sepulcrais, basiliscos venenosos, Missa dos Vermes, na floresta um
sabbath infernal, onde o Baphomet, vociferando maldições terríveis, traça um pentagrama com sangue impuro, enquanto, em louvor a seu Mestre, enquanto sacerdotisas corrompidas profanam um crucifixo sob o eflúvio de miasmas lunares.
Há que destacar também o extraordinário trabalho do produtor Oz Fritz, mormente no disco 2, onde a lisergia alienígena das versões
ambient evoca o inesquecível trabalho de engenharia sonora logrado por Teo Macero em
Bitches Brew; vale, por fim, louvar a qualidade técnica do registro, sobretudo no que se refere à percussão, que é simplesmente DEVASTADORA, de modo que cada simples rufada de bateria soa como um verdadeiro tiro de
Dicke Bertha derrubando tudo pela frente.