Alice in Chains - Jar of Flies (EUA, 1994)
1 - Rotten Apple
2 - Nutshell
3 - I Stay Away
4 - No Excuses
5 - Whale & Wasp
6 - Don't Follow
7 - Swing on This
Layne Staley – vocais
Jerry Cantrell – violão, vocais
Mike Inez – baixo, violão, vocais de apoio
Sean Kinney – bateria e percussão
Se me pedissem para definir o
grunge, ou como queiram, o
'som de Seattle', com apenas uma palavra, eu não usaria 'sujo', nem 'agressivo', tampouco 'junky': a principal característica que eu vejo nas bandas dessa leva do rock americano do final dos anos 1980 e começo dos 1990 é a
SINCERIDADE. Tudo bem que músicos babacas fazem músicas babacas, mas isto não quer dizer que eles estejam sendo sinceros o tempo todo - mas não é esse o ponto. No
grunge, os atos e sentimentos mais obscuros do ser humano vêm a tona e são tratados com poesia, urgência e acima de tudo, genuinidade. Toda a danação e desesperança, toda a drogadição e desespero, é cantada (e berrada) sem meias palavras, fazendo com que o movimento
punk, com toda sua crítica sociopolítica, pareça apenas um burocrático exercício de rebeldia, e não um retrato do que aquela geração estava vivendo em casa, nas ruas e dentro de si mesmos.
Depois de percorrer o mundo para a turnê de divulgação do seu disco mais bem sucedido comercialmente, o excelente "Dirt" (1992), os quatro rapazes do Alice in Chains voltaram para Seattle e, devido ao despejo do apartamento onde moravam, por falta de pagamento de aluguel, se mudam para o lendário estúdio London Bridge e lá, em apenas uma semana, gravam um punhado de músicas acústicas que em nada lembram as guitarras sujas e pesadas do disco anterior. Fugindo do óbvio, eles se sentam juntos pra produzir a si mesmos e mostrar que são muito mais talentosos e versáteis dos que a maioria das outras bandas de Seattle, e o resultado é um disco único, coeso, e perfeito em todos os sentidos e sob todos os pontos de vista.
O disco, que apesar de ter mais de 30 minutos de duração é considerado um EP (o mais vendido da História até então, aliás), começa com duas baladas depressivas e angustiantes, "
Rotten Apple" e "
Nutshell", para em seguida ser o Alice in Chains que todos conhecem, pesado, agressivo e tenso, mas ainda acústico, em "
I Stay Away". "
No Excuses", o maior sucesso radiofônico da banda nos anos 1990, antecede o belíssimo momento instrumental "
Whales & Wasp", onde a guitarra de Cantrell parece o lamento de uma baleia a beira da morte. "
Don't Follow", um
soul embalados por gaita de boca e "
Swing on This", com seu ritmo jazzístico, encerram de forma magistral o disco, que coloca o Alice in Chains definitivamente no seleto rol de bandas que podem gravar a música que quiser, sem se prender a rótulos, pois tem o talento de imprimir em tudo que faz a sua marca registrada, o seu jeito único de fazer música.
A banda ainda lançaria mais um disco de estúdio, epônimo, com a famosa capa de um cachorro aleijado, e um Unplugged MTV, mas os problemas de Staley com as drogas, que cuminaram com a sua morte em 2002, levou a banda a um fim prematuro. Mas o que temos nesse Jar of Flies, apesar de não ser o som mais característico que o
grunge já produziu, é de uma criatividade e beleza musical de arrepiar, como tudo que a banda produziu em sua curta porém brilhante carreira.