1. Terrible Love
2. Sorrow
3. Anyone's Ghost
4. Little Faith
5. Afraid of Everyone
6. Bloodbuzz Ohio
7. Lemonworld
8. Runaway
9. Conversation 16
10. England
11. Vanderlyle Crybaby Geeks
Eu não vou fazer uma resenha. Ao invés disso, vou apresentar uma pequena história, e depois escrever uma não tão breve conclusão tentando provar meu ponto.
André tem hora marcada para ir no oftalmologista, mas ele sabe que vai ter que remarcar. Hoje ele marcou de sair com uma garota, e isso é raro a ponto de justificar uma mudança de planos. O relógio lentamente derrete sem ele se dar conta, e agora ele tem que correr. O banho, como sempre, demora mais do que o necessário. Indecisão para escolher roupas, agonia de desodorante, aversão a pentes, enjôo de anti-séptico bucal, medo de sair sem esquecer nada. O inverno nunca pareceu tão forte, a dificuldade de respirar o domina, ele chega suando no lugar. Mas claro que ela ainda não chegou.
A garota, Isabela, é uma loira perfeita, embora André prefira morenas imperfeitas. Ela chega, cumprimenta, se ajeita na cadeira, pede algo para beber, abre a bolsa, pega um cigarro, pede o isqueiro emprestado, acende um Marlboro light, olha a fumaça saindo da boca, e finalmente olha fixamente pra ele. Nenhum assunto. O silêncio era mais forte do que qualquer metáfora, era longo demais pra não quebrar qualquer ritmo. Ele esboça uma reação, comenta algo sobre a raíz quadrada da hipotenusa, como a cidade é grande sendo pequena demais, como ninguém mais parece ter idéias originais, ou como está quente pra caralho ali dentro mesmo estando um frio insano no resto do mundo. Chegando na possibilidade de um congresso de cachorro quente, o assunto não dura.
André vai ao banheiro. Fila. Ele olha no espelho e tenta quebrar o clima consigo mesmo fazendo caretas. O banheiro abre, ele rapidamente se tranca. O longo espaço vazio enquanto ele tenta se acalmar. Mas se acalmar não é possível. E se ela não gostar dele, mesmo ele não realmente gostando dela? E se ela estiver se arrependendo de não ter ficado em casa assistindo novela e Casseta e Planeta? E se ela gostar de CQC? Mijar é um isolamento nesses contextos sociais. Ele se lembra daquele rosto ali fora. Nosso protagonista está a uns 6 meses sem fazer sexo, o que parece natural, facilmente compreensível, perfeitamente saudável. Depois dos primeiros 4, você se acostuma com a sua mão, é o que sempre dizem. Nervosismo no espelho, ele quebraria o banheiro todo se tivesse coragem ou vivesse num filme.
Quando ele volta, é difícil de explicar toda aquela revolução invisível, toda aquela epifania irrelevante. As horas passam rápido, mas cada minuto é uma batalha, cada segundo é uma eternidade. Isabela tem uma voz excessivamente aguda e meio fanha, ela fica o tempo todo comentado sobre qualquer coisa que estereótipos femininos chatos comentam normalmente. O som se interrompe quando André sem maiores explicações engole o rosto de Isabela. Durante o beijo, ele compara com todos que teve na sua vida, colocando ela provavelmente no oitavo lugar. Ela para, olha pra ele. Ele para, olha pra garota da outra mesa.
A noite vai finalmente morrendo, agora André está levando ela até em casa, que é algumas ruas pra cima da casa dele. Quando eles passam por lá, Isabela parece mostrar alguma vontade de ir acabar a noite junto com ele. André percebe. Engatilha uma fala sobre o quanto ela é linda, sobre o quanto a vida é curta, sobre o quanto fazer sexo com lubrificante que esquenta parece comer o microondas. Ele se enrola, abaixa a cabeça, coloca a mão no bolso e segue andando. Beijo de boa noite, o longo caminho pra casa. Chave na porta, a luz acende e prontamente se apaga. André caminha pelo corredor tentando não esbarrar em nada. Ele se convence a deitar na cama, olha pro teto procurando estrelas, batalha pra fechar os olhos pra fugir dos fantasmas. Finge rezar e torce pra conseguir dormir sem precisar bater punheta.
Auto-biográfico? Não exatamente, e certamente não falo de nada especificamente. Parece um exercício inútil fazer alguém ler toda essa anedota besta só pra tentar montar uma opinião numa conclusão que em nada tem relação com o texto, sendo que o texto já não tinha qualquer conexão com o assunto. Mas o assunto? Eu poderia falar da banda, fazer uma crítica das músicas, citar uma por uma, usar aqueles termos idiotas de imprensa musical, como "desenfreado", "guitarras afiadas", "vocal apoteótico", "progressão interessante" ou "refrão pegajoso". Eu podia fazer isso, mas seria fácil demais. O que eu quero provar aqui é a mesma coisa que o The National quis provar com o excepcional High Violet: a vida não é grandiosa de forma alguma. Mesmo considerando a improbabilidade da nossa existência individualmente, não existem muitos aspectos redentores em qualquer rotina. Nossa tendência de sermos auto-destrutivos não pode ser só nossa culpa, mas uma pessoa se expõe ao ridículo reclamando. Ei, todo mundo tem seus problemas, e esse é um dos maiores problemas.
Então a tristeza, a agonia, a solidão, o medo e a insegurança são sentimentos quietos. Não é algo espetacular, não é algo que merece ser divulgado, não é algo que todos devem compartilhar, não é algo que interesse pra qualquer um que não seja quem sente. Mas todo mundo sente, né? Aberrações como o Circa Survive tentam usar esses sentimentos de forma bombástica, de forma alta. Como parar na frente de uma pessoa e gritar "EU NÃO ESTOU BEM!". Por que você faria isso? O National fez seu álbum mais discreto, o disco parece ter sido gravado num volume mais baixo, as faixas passam sem nenhum momento épico que chama a atenção. Mas é o todo que acaba pesando, são as imagens melancólicas narradas pela linda voz do Matt Berninger. E tudo soa meio familiar, porque porra, todos nós passamos por essa porra. No final, tudo é uma guerra minúscula. High Violet é o grande disco de 2010 até agora.