Robert Fripp & The League of Gentlemen -
The League of Gentlemen (1981 - Inglaterra)
Faixas:
01) Indiscreet I (1'47)
02) Inductive Resonance (4'35)
03) Minor Man (3'45)
04) Heptaparaparshinokh (2'03)
05) Dislocated (4'35)
06) Pareto Optimum I (2'07)
07) Eye Needles (3'12)
08) Indiscreet II (2'35)
09) Pareto Optimum II (1'27)
10) Cognitive Dissonance (3'38)
11) HG Wells (3'25)
12) Trap (4'45)
13) Ochre (3'07)
14) Indiscreet III (1'26)
Músicos:
Robert Fripp / guitarra elétrica
Sara Lee / baixo elétrico
Barry Andrews / órgão elétrico
Kevin Wilkinson / bateria (exceto na faixa 2)
Johnny Toobad / bateria (faixa 2)
Daniele Dax / vocais (faixa 3)
Uma das características mais importantes, tanto em termos estéticos quanto por assim dizer ‘operacionais’, do
rock’n’roll, é sua capacidade ímpar em amalgamar elementos e tendências provenientes das mais diversas latitudes espaço-temporais. Destarte, um dos traços que a meu juízo determina o grau de excelência d’uma banda e/ou artista é sua capacidade de agregar o maior número possível de elementos e conexões sem, contudo, perder o senso de unidade formal; ou em outras palavras, de conjugar a um só tempo ampla informação estética, ousadia criativa e rigor estrutural, logrando assim levar a efeito uma obra que não se esgota em si mesma, mas que, pelo contrário, descortina todo um horizonte de possibilidades e perspectivas.
O disco em tela a meu ver encaixa-se à perfeição na descrição acima delineada: formula-se, com efeito, como um brilhante exercício de fusão entre
prog crimsoniano, propulsão dançante, punk rock e ambiências industrialistas, onde se destaca a intricada geometria dos contrapontos pontilhistas traçados pelo ataque conjunto da guitarra de Robert Fripp e do piano elétrico de Barry Andrews (XTC, Shrieckback), dinâmica que se ancora na vigorosa e hipnótica 'cozinha' de Sara Lee (Gang of Four, B-52's) e Kevin Wilkinson / Johnny Toobad; trata-se, pois, d’um estupendo trabalho de
aggiornamento das complexas estruturas do
rock progressivo através d’uma abordagem mais direta e incisiva, aliando destreza instrumental e
punch sonoro. Não obstante, causa-me verdadeiro assombro, tendo em vista a megalomaníca pulsão por relançamentos que caracteriza
mr. Fripp, que este precioso material esteja tão somente parcialmente disponível em formato digital na coletânea
God Save The King (1985 - reeditada em
CD no ano de 1989, mas hoje fora de catálogo). Por mais que a referida compilação sintetize eficazmente os experimentos de Fripp com
discotronics e sua carreira com a League, fazem muita falta os interlúdios
ambient / industrialistas presentes no álbum original da LOG (mormente a excelente seqüência “Indiscreet” I, II e III, na primeira das quais Sara Lee brada a pérola "
rock'n'roll is about fucking!"), assim como a excelente “Minor Man” (com direito aos vocais
schizo de Daniele Dax), uma das melhores músicas do disco; outrossim, parece-me inaceitável a opção de extirpar as '
found voices' antes presentes nas faixas “Cognitive Dissonance”, “HG Wells” e “Trap”, traço que lhes conferia um sabor deveras peculiar (por exemplo, como sobreviver sem o orgiástico orgasmo de miss Lee em “HG Wells”???)
Enfim,
oh my brothers:
The League of Gentlemen é indubitavelmente mais um trabalho a ser redescoberto, não apenas por ser um dos discos mais inteligentes, criativos e inusitados da longa carreira do 'Rei Escarlate', mas também como verdadeira aula magna de bom gosto e aventura sonora num contexto em que tanta porcaria pretensiosa e inócua é apresentada como supra-sumo da sofisticação musical (alô alô, Radiohead!).